Havia algo mágico na relação entre Dona Josefa e o Serenata & Cia. Todo mês de setembro, sua família nos chamava para celebrar mais um ano de vida dessa senhora encantadora, no aconchego de sua casa no bairro de Interlagos. Era como um ritual certeiro, tão esperado quanto o nascer do sol após uma noite longa.
Por pelo menos quatro anos, o encontro teve sua própria trilha sonora: Rio de Piracicaba e Tristeza do Jeca. Essas canções não eram apenas música para Dona Josefa; eram pontes que a conectavam a memórias antigas, um tempo em que a vida parecia mais simples, mais rica em detalhes. Ao ouvi-las, seus olhos brilhavam de uma forma que transcendia o momento presente.
Ela nos recebia sempre com sua mesa posta, cheia de bolinhos de chuva feitos por suas próprias mãos, mesmo aos 93 anos. Enquanto cantávamos, ela nos dizia:
— A vida é feita de pequenos instantes, como os bolinhos que preparo. O segredo está em cuidar bem da mistura e aproveitar enquanto ainda está quente.
Naquele último setembro, em 2012, Dona Josefa parecia diferente. Ainda mantinha o sorriso, mas havia algo contemplativo em seu olhar. Foi a última vez que estivemos lá. Depois disso, o telefone silenciou. Os anos passaram, e nunca mais recebemos notícias dela.
Agora, refletindo sobre aqueles encontros, vejo que Dona Josefa nos ensinou muito mais do que apenas sua paixão por bolinhos de chuva e canções do interior. Ela nos mostrou que a vida é sobre os momentos que escolhemos celebrar, não importa quão pequenos possam parecer.
É comum deixar para depois as comemorações, imaginando que haverá tempo. Mas o tempo, esse rio que flui sem cessar, não espera por ninguém. Celebrar, como Dona Josefa fazia, é um ato de coragem e amor.
Não precisamos de grandes festas nem datas marcadas. Um momento, uma música e um bolinho de chuva podem transformar qualquer dia em algo extraordinário.
Talvez Dona Josefa ainda esteja em algum lugar, rodeada de música e afeto. Ou talvez tenha partido, deixando para trás a lição mais valiosa: viva os instantes com intensidade, porque são eles que tecem o significado da vida.
No fundo, o que importa não é quantas vezes o Serenata & Cia pôde cantar para ela, mas o que cada música significou enquanto durou. Que cada um de nós aprenda a saborear os “bolinhos” que a vida nos oferece. Afinal, a felicidade mora no aqui e agora, em cada nota cantada, em cada abraço dado, em cada sorriso compartilhado.